Escola em ciclos ou ciclos na escola?

27 de agosto de 2013


Benigna Maria de Freitas Villas Boas

A organização do trabalho escolar em forma de ciclos teve início no Brasil de forma tímida. Um ou mais ciclos têm convivido com o regime seriado em uma mesma escola. Este é o caso do Distrito Federal, onde o Bloco Inicial de Alfabetização – BIA – constituído pelos três primeiros anos do ensino fundamental, funciona desde 2005 em escolas convencionais. O que se observa é que o BIA nem sempre é bem compreendido, principalmente pelo fato de as crianças não serem reprovadas enquanto o cursam.

Quando se discute o tema ciclos ou blocos com professores e outros profissionais da educação, a primeira inquietação se relaciona à avaliação. É comum ouvirem-se as perguntas: e a reprovação como fica? Quando o estudante poderá ser reprovado? Tornou-se natural aceitar que à escola cabe reprovar o estudante que demonstra não ter aprendido ou que não alcançou a nota mínima. Ainda não se concebe a escola como local de aprendizagem e não de reprovação. Assim entendida, não lhe cabe selecionar grupos: o dos estudantes que aprendem e são aprovados e o dos que não aprendem e são reprovados. A palavra-chave é aprendizagem. Reprovação é uma palavra fora de foco.

A escola não-seriada, isto é, que organiza seu trabalho por meio de ciclos e abandona as séries, assume compromisso com as aprendizagens de todos os estudantes. Esse formato escolar não aceita a reprovação dentro dos ciclos nem na passagem de um a outro. Não faz sentido eliminar a reprovação no interior dos ciclos e adotá-la quando o estudante se movimenta de um a outro. Qual seria a justificativa para isso? Parece ser aceitável que o estudante vá acumulando necessidades de aprendizagem e que, ao final de um determinado período, ele seja considerado incapaz de continuar seu percurso. É esta a escola que nossos estudantes merecem ter? Esta escola é séria e justa?

Quando toda a escola desenvolve seu trabalho de forma não-seriada, o corpo docente e as equipes gestora e pedagógica atuam em função dos mesmos objetivos. O ciclo ou bloco deixa de ser um apêndice: torna-se o eixo norteador de todo o trabalho. Também os pais parecem compreender melhor o processo. Estes, sim, merecem atenção especial de toda a equipe escolar. Afinal de contas, passaram pela escola seriada e acostumaram-se à avaliação classificatória, punitiva e excludente. De modo geral, não veem a possibilidade de se ter outro formato de escola.

A escola em ciclos tem mais chance de congregar os professores, pais e estudantes em torno dos seus objetivos do que a convivência, na mesma escola, de ciclos e da seriação.
No caso do DF, que implantou o BIA em 2005, é hora de se criarem os blocos seguintes para que se constitua a verdadeira escola em ciclos.


Comentários do Blogueiro 

Encontrei esse texto como indicação de leitura da postagem A propósito da metodologia de ciclos na educação pública do Distrito Federal, no Blog do Washington Dourado. Reproduzo aqui, pois gostei das ideias da profa. Benigna. Penso que é um modelo de educação e de ensino-aprendizagem a se pensar e até em se almejar. Mas, há muitos desafios e obstáculos a serem superados para sua efetiva implantação.

Juninho, um machista no capricho

26 de agosto de 2013


 
Fotos: Arquivo NE10
Juninho aprende a ser homem, macho, como se espera, é o que tem que ser

Por Miguel Rios 

Juninho nasceu. Dia de festa na família, de orgulho. O filho varão. Quarto azul, roupinhas azuis. Azul é o ursinho. Azul é o chocalho. Trata-se de um menino, homem, e tem logo que ser identificado com tal. Não deixar dúvidas.

Juninho é carregado pelos tios e logo seu pênis, mesmo diminuto, é louvado. "Pintão!". "Esse puxo ao tio!" As tias se apressam em arranjar um par para quem tem um dia de vida. "Agora a filha de Maria e João tem com quem namorar", diz uma. "Tem também a de Pedro e Juliana", lembra outra. Chegam logo a um consenso que ele dará conta de todas.

É garanhão. É homem. Surge a conclusão que ele estava virado para o lado direito, pois, nessa posição, poderia ficar de olho na menininha ao lado no berçário. Conversa vai conversa vem, alguém lança a teoria que quando ele chora as garotinhas se calam para escutar o grito másculo do conquistador.

Juninho é homem e como homem será criado. É uma família que nutre a testosterona, a macheza, com muito cuidado. Não podem fraquejar, por tudo a perder.

O menino cresce e é teleguiado na ordem. Bola e carrinho. Falcon e Comandos em Ação. Um dia Juninho tocou em uma Barbie. De imediato foi repreendido. "Não é para menino". Ele beijou um amiguinho na bochecha. Recebeu uma bronca maior. Roubou um beijo na boca da coleguinha. Quanta alegria dos pais, que fingiram desaprovar diante dos familiares da garota, mas comemoraram em casa o avanço do amado homenzinho. "Esse não nega. Vai pegar todas. Hehehehe!" Como o pai está feliz.
É gradual. Juninho aprende a ser homem, macho, como se espera, é o que tem que ser. O tio o abraça e pergunta: "Quantas namoradas já tem na escola?" Juninho responde: "Sete". O abraço fica ainda mais apertado. Respondeu assim... na obrigação, no escapa. De tanto ser questionado e ficar perdido sem saber o que falar, contou as amigas de classe e jogou o número na inocência. Foi premiado, viu que agradou. Tempos depois aumentou para oito. Mas comemorado ainda. Juninho fixou que quanto mais aumenta a soma, mais homenageado é.

Aprendeu. Homem tem que pegar muitas, tem que contar que pega muitas e aí causa contentamento. Mulher é feita para ser apanhada. Juninho já sabe que isso "é coisa de homem", que "homem é assim mesmo", "que quem quiser que prenda suas cabritas que o meu bodinho está solto". Juninho fixou.

Chegou na adolescência e tem consciência de que o mundo é machista, desde o começo é desse jeito, fim de papo. Ele dos que saem e paqueram. Dos que se ligam em uma garota e vão para cima. Dos que acham que a fêmea tem que ceder, que sua cantada é imbatível, que insistir é fundamental.

Juninho aprendeu com os parças que a mulher vai ali para ser incomodada, que ela faz doce, mas ela está querendo, que não tem que abrir para o beicinho dela, que macho que é macho não desiste. Ele já beijou forçando, puxou cabelo, levou tapa na cara e bateu de volta.

Juninho modelou a mente para identificar a menina para ficar e a para namorar. Normas que ele segue à risca, porque homem que é homem de respeito não se liga à vagabunda, não quer ouvir "tás com uma rodada?". Para namorar é a menina com menos fama de ficante possível. A comportada. A virginal. Para dar uns pegas é a liberta, a sem amarras, que ele conhece como piranha. A que não vai rejeitá-lo. A que taxaram como sempre disponível. Que é ir lá e pimba!, já pegou. Que se recusar ele tem o direito de reclamar: "Como assim ele ser recusado?", "Como assim aquela puta posar de difícil?". Juninho não entende. Não admite. Não foi o que lhe disseram desde sempre, está fora do eixo.

Não é o que lhe cobram. Juninho sabe que precisa corresponder. Caso algum requisito do macho ideal falte em sua ficha, ele tem que pagar. Preço, para ele, duro.

Se Juninho tropeçar diante da banca examinadora, que nunca para de fiscalizar, é chamado de gay. Instantâneo. Se fraqueja na caça sexual, é veado. Se usa um sapato fora das regras, é boiola. Se pede um chá na cantina da escola, é bicha.

Inadmissível para ele. Juninho foi doutrinado para pensar que, mas que tudo, homossexualidade é o que há de pior. Que seus tios e tias, primos e primas, avôs e avós, mãe e pai, sempre o guiaram no cabresto, com tanta pressão, tanta vigilância, tanto esforço, para evitar a desgraça. Que ele pode ser tudo. Machista, tarado, bandido, dar desfalque, trair um amigo, ser violento, mandar pessoas para o hospital. Tudo. Menos a desonra de ser gay.

Juninho treme apenas em pensar na possibilidade de que alguém bote sua macheza em dúvida. Nunca. Logo ele que para desmerecer chama logo de veadinho. Logo ele que vai para o estádio torcer e grita sem parar "Fulano, veado", "Time de mariquinhas". Que nem cogita ter um jogador homossexual manchando as cores de seu manto sagrado. Que caso ocorra vai ameaçar o cara,manda sair, já em pânico pela chacota que o adversário vai fazer pelo resto da vida.

Logo Juninho que não lava um prato, nem arruma a cama por ser trabalho de mulher. Logo ele que abusa dos gesto viris. Que abraça amigo quase na porrada para que o afeto não seja confundido com delicadeza. Que grita palavrão quando uma garota de minissaia passa, que coleciona Playboys, que de jeito nenhum chora porque nada a ver ser sensível, que transa mesmo sem estar a fim apenas para manter a reputação intacta.

Que acha que o mundo corre perigo de enveadar por causa dos direitos LGBTs. Que ficou sabendo que ativista homossexual é gayzista, que ser homofóbico é apenas bater em gays, que destratar, querer que continuem subcidadãos, subalternos, é defender o orgulho hétero, as famílias, a ordem natural. Que acha o mundo é hipócrita, já que ninguém quer ter filho gay, mas ficam defendendo.

Juninho é algoz e vítima. O mundo, que ele tanto acredita ser imutável, que como está deveria ficar, solidificou aos poucos, desde quando bateu suas primeiras palminhas, o que ele prega.

O mundo de Juninho é o de verdades velhas, fabricadas por interesse, de seus antepassados, que ele absorveu como suas. De que há pessoas subordinadas, que o lugar delas é aquele, que não têm nada que contestar. Elas têm é que se contentar.

Juninho é um rei. Está no lucro. Posto no topo da cadeia alimentar, em um ecossistema onde outros são presas. Para capturar, acasalar, procriar ou para destruir. Ele luta para perpetuar seu lugar dominante.

Juninho não atenta, em seu silêncio crítico e criativo, o quanto ele nada tem de atitude. De ele mesmo. É um papagaio, uma cópia. Um escravo, que asfixiou uma parte de si para dar satisfação, se moldar ao que se quer dele. É passivo.

Mas Juninho está nem aí, nem vai chegando. Raciocínios novos são frescuras de veado. Ficar lamentando injustiça é mimimi de veado. Homem bebe, arrota e dá no couro. E fica tudo bem.

Juninho tem mais é que se preocupar com o casamento que se aproxima. Com menina que ele desvirginou e engravidou. Não está muito na de juntar as escovas de dente, já caiu na greia dos companheiros, de que vai para a forca, que perder a liberdade, mas ele se compromete a não deixar a farra e a pegação. "Mulher em casa nada impede mulher na rua". E arranca gargalhadas. Se não der certo, separa e volta por completo para a curtição.

O importante é que Netinho nasce daqui a seis meses. Enxoval azul já encomendado. Max Steel e Hot Wheels na prateleira. Netinho vai puxar ao pai. Macho todo.

*As colunas assinadas não refletem, necessariamente, a opinião do NE10

Adjetivando

23 de agosto de 2013



Hoje eu vou ensinar
O que é adjetivo?
Se você não quer aprender...
Tudo bem
Pra mim, faz sentido...
Adjetivo é tudo aquilo que expressa qualidade.
Eu sou bonito.
Isso você sabe!

Preste atenção: bonito é qualidade.
Portanto, bonito é um adjetivo.
Sou eu, de verdade.

Eu sou um garoto bonito e inteligente.
Você é uma garota bonita e inteligente.
Ouviu essas frases?
Nelas temos: sujeito, verbo, artigo, substantivo e adjetivo.
Tudo junto formando a frase.

Meninos estudiosos, meninas estudiosas
Não se esqueçam!
Os adjetivos concordam
Em gênero e número com os substantivos.

Prestou atenção?
Viu como é legal?
Aprender nem sempre é mau. 

(Depois da aula de adjetivo... #Inspirações)