Re-significando minhas experiências no Censo - IBGE 2010

14 de setembro de 2010


O IBGE é uma aventura emocionante! Consegui cumprir o setor em um mês. Ficaram doze casas fechadas, o que corresponde a 5% do total de domicílios e estabelecimentos que registrei. Nos últimos dias, tentando encontrar os moradores que não estavam em casa, vivenciei fatos engraçados e fortes emoções. Além disso, pude significar mais as vivências que tive enquanto estava em campo. Ainda não acabou. Tenho mais um setor a percorrer, mas esse é composto mais de estabelecimentos que domicílios. Como gosto da discussão de raça/etnia, classe social, sexualidade e gênero, é nesses pontos que centrarei essa postagem. 
Infelizmente, o IBGE não discute a questão dos casais homossexuais (sexualidade), de gênero, da questão de cor e raça, da questão de renda (classe social), da escolaridade, da geração, embora sejam perguntas feitas à população. De qualquer forma, acredito que os dados (resultados) obtidos pelo Censo devem ser sempre usados e mencionados sem esquecer da sua relatividade e precariedade. Como disse antes, a maioria dessas questões deixa os entrevistados “sem jeito”, quando não mostram vergonha, fingem, mentem, escondem, ou também demonstram preconceitos, discriminações, desvalorizações. 
Na postagem anterior sobre o IBGE, comentei que mesmo depois de você dizer as opções de cor ou raça (branca, preta, amarela, parda e indígena) as pessoas insistem em dizer “morena”. Quando não é “morena clara”, “morena escura”, “clarinha”, “da sua cor”, “essa cor aqui”. A pergunta “você está querendo contar quantos “negões” há na Ceilândia?”, enunciada por uma moradora, demostra a insensibilidade com a questão de raça/etnia. Dessas situações podem concluir algumas coisas. A dificuldade da população de se definir em termos raciais, a presença do mito da democracia racial, o racismo e a questão do branqueamento. O branqueamento, segundo Thomas E. Skidmore, retirado na Wikipédia, baseia-se na presunção da superioridade branca. Essa corrente vê na miscigenação a saída para tornar a população mais clara, por acreditar que o “gene” da raça branca prevaleceria sobre as demais e que as pessoas em geral procurariam por parceiros mais claros do que elas. Assim afirmavam que o branqueamento produziria uma população mestiça sadia, capaz de tornar-se sempre mais branca, tanto cultural como fisicamente.
Outra questão interessante é que encontrei mais dois casais homossexuais, no mesmo bloco onde encontrei o primeiro. Em que se pese a ideia magnifica da campanha “Ser você for LGBT, diga que é” promovida pela ABGLT e adotada por outros grupos e pessoas, parece que nem todos(as) entenderam o objetivo do Censo em relação a essa questão, mas também parece que a campanha não chegou a os lugares e pessoas que mais precisam da informação. Primeiramente, nesses dias, ocorreu um fato interessante no Twitter. Um dos meus seguidores fez questão de dizer ao recenseador que era homossexual, demonstrando que não sabia os reais propósitos do Censo, que não é pesquisar orientação sexual (homo, bi ou hetero), mas saber quem vive em união consensual ou estável com parceiros(as) do mesmo sexo. Outro fato é que os dois últimos casais homossexuais que entrevistei, aqui na Ceilândia-DF, considerado apenas um dos parceiros, omitiram sua relação afetiva e sexual. Um disse que viviam com o “amigo” e o outro “inventou”, inclusive, que vivia com a “tia”. Essas questões também demonstram outros processos culturais que vivemos. Um deles é a homofobia internalizada, o silenciamento da homossexualidade pela invisibilidade do armário e a crença na discriminação sexual a partir da sua publicitação. 
A questão de classe social é outra igualdade interessante de observar. Poucas pessoas dizem a verdade em relação ao rendimento mensal que ganham. Muitas pessoas evitam dizer seu rendimento porque acreditam que a receita federal ou os políticos podem “controlar” mais a suas vidas financeiras, o que não deixa de ser verdade, a meu ver, por um lado. Muitas pessoas também podem ter receios de afirmar sua renda pensando na possibilidade de serem roubadas (não duvido). Essa questão de rendimento, pelo menos aqui em meu setor, varia muito e só sei que afirmar que a maioria dos moradores do meu setor, embora seja uma cidade periférica e que precisa de investimentos, não são “desfavorecidos economicamente”.
Por fim, atendendo aos pedidos, posto algumas fotos minhas uniformizado com o colete, boné e PDA do Censo. Aliás, eu queria mesmo tirar uma foto para deixar guardada. (Desculpa barata para me mostrar!)
 

Referências: Democracia racial no Brasil. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_racial_no_Brasil