O feedback no processo de aprendizagem online: desafios, cuidados e possibilidades

26 de fevereiro de 2013





Feedback é uma palavra inglesa composta pelos radicais feed (alimentar) e back (voltar), gerando a expressão realimentar ou retroalimentação. A palavra é utilizada em diversas áreas do conhecimento, como Administração, Engenharia, Psicologia e Educação. Na educação, um exemplo de feedback é o/a professor/a explicar a matéria e perguntar para o/a estudante o que entendeu, ou seja, o/a professor/a estaria recebendo um retorno por parte do/a aluno/a daquilo que ensinou. Outro exemplo é quando o/a professor/a emite um comentário sobre uma atividade que o/a estudante fez, buscando apontar se atendeu aos objetivos da atividade ou se ainda precisa avançar em alguns aspectos, seja na compreensão do conteúdo, na formatação do texto e na exposição de suas ideias. 

No âmbito das relações interpessoais, lidamos com o feedback a todo momento, ora para expressar algo que gostamos ora para expressar algo que não gostamos. Entretanto, quando falamos em feedback na área de educação é importante compreender que ele não se resume a essa simples questão de gostar ou não. O feedback na área de educacional está relacionado com a avaliação formativa. De acordo com Kraemer(2005), a avaliação formativa representa o principal meio através do qual o/a estudante passa a conhecer seus erros e acertos, e assim encontra maior estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos. Por ser uma estratégia de avaliação formativa, torna-se importante saber dar feedback ao aluno/a, tanto como forma dele saber como está seu desenvolvimento e aprendizagem, quanto como modo de apontar aprendizagens que precisam ser desenvolvidas.


Com base nessas considerações iniciais, buscarei refletir sobre o feedback na área de educação, especialmente, no campo da educação a distância. A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade de educação mediada pelo uso de tecnologias da informação e da comunicação, em que nem sempre o “aluno” e o “professor” ocupam o mesmo espaço e se comunicam no mesmo tempo. Nesse sentido, fazer feedback no processo de aprendizagem é uma prática que envolve desafios, cuidados e possibilidades. Pela própria natureza da comunicação online, em que nem sempre é possível identificar as intenções e sentidos em uma mensagem escrita, torna-se fundamental desenvolver uma comunicação modelada, que evite palavras dúbias, seja objetiva e construtiva. Como diz Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), nos processos de aprendizagem online “a palavra escrita passa a ter novo valor”. Assim, além de prezar pelas normas gramaticais, é fundamental que o feedback seja cordial, lembrando que não se trata de menosprezar a atividade do aluno, mas de conforme afirmam Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), “mostrar ao estudante se ele está no caminho certo ou nao”.

Ainda sobre os cuidados, a comunicação, por meio do feedback, exige levar em conta que o aluno é um adulto, não um ser incapaz, como relata a professora Denise de Abreu e Lima no vídeo abaixo. Ao conceber o aluno como um adulto, deve-se evitar reproduzir as relações que geralmente prevalencem nos processos de aprendizagem presenciais. Ao considerar o aluno como uma pessoa capaz de construir seus conhecimentos, de se superar, é importante estabelecer uma comunicação que valorize a participação e aponte, de forma sutil, os pontos que ainda precisam ser aprofundados. É isso que algumas pesquisadoras, dentre elas a professora Denise de Abreu e Lima tem chamado de “comunicação modelada”, ou seja, a importância de não ser omisso quanto os resultados apresentados, mas ao mesmo tempo não fazer juízos que simplesmente apontem o “erro” e não dê oportunidade da pessoa refletir sobre o que precisa melhorar para avançar na aprendizagem. Portanto, uma comunicação modelada e respeitosa é um dos cuidados. 

Há inúmeros desafios na prática do feedback, e levar em consideração os cuidados supracitados é uma forma de superar alguns deles. Um desafio da tutoria online e do feedback é responder ao cursista sempre em tempo ágil. De acordo com as atribuições do Tutor do Sistema UAB/CAPES,  o profissional selecionado para realizar a tutoria Tutor deve manter regularidade de acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responder às solicitações dos alunos no prazo máximo de 24 horas. Nesse sentido, o feedback deve ser dado rapidamente, visto que os conteúdos e as atividades programadas de um determinado tópico geralmente ocorrem no prazo de uma semana. No caso do feedback das atividades, também é fundamental que seja feito assim que o cursista encaminhe a atividade pelo recurso específico, pois assim é possível realizar uma pré-correção e avisar o cursista, caso seja necessário, que necessita refazer determinado aspecto e enviar novamente a atividade para que atenda aos objetivos traçados. 

Com relação as possibilidades do feedback, geralmente, conforme comentam Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), “os educandos reagem favoravelmente ao contato frequente e ao feedback dos tutores, especialmente em estagios iniciais das atividades sugeridas no ambiente virtual” (p. 123). Assim, o feedback tem o potencial de incentivar a reflexão por parte do cursista de seu próprio processo de aprendizagem, além de motivá-lo a superar as suas próprias dificuldades. É por meio do feedback que se pode alertar ao aluno se os objetivos estão sendo cumpridos ou se há competências que necessitam ser aprendidas. Portanto, o feedback, se bem utilizado, trás como possibilidade o desenvolvimento da aprendizagem. 

Para finalizar, é importanter compreender que o feedback não deve ser confundido com crítica. Para Ferreira (2007), o feedback é “um processo de ajuda mútua para mudanças de comportamento, por meio da comunicação verbalizada ou não entre duas pessoas ou entre pessoa e grupo, no sentido de passar informações, sem julgamento de valor, referentes a como sua atuação afeta ou é percebida pelo outro e vice e versa”. A crítica, ao contrário do feedback, “é um processo de comunicação verbalizada ou não, entre duas pessoas ou entre pessoa e grupo com o objetivo de passar nossos valores de certo e errado, geralmente traz consigo a intenção  de acusar, julgar e condenar e, não raro, com intensa carga emocional dos interlocutores”. Em síntese, feedback é uma resposta, ou seja, a emissão de alguma mensagem que venha ajudar o/a aluno/a. 

No vídeo abaixo, a professora doutora Denise de Paula Martins de Abreu e Lima, professora na UFSCar, coordenadora adjunta da UAB-UFSCar e doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp fala sobre as interações interpessoais no ambiente online e as formas ideais de se fazer feedback no processo de aprendizagem online.




REFERÊNCIA

MILL, Daniel; ABREU-E-LIMA, Denise; LIMA, Valéria Sperduti. O desafio de uma interação de qualidade na educação a distância: o tutor e sua importância nesse processo. In: Cadernos da Pedagogia, Ano 02, Volume 02, Número 04, agosto/dezembro, 2008. 
KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. A avaliação da aprendizagem como processo construtivo de um novo fazer. Avaliação (Campinas) [online]. 2005, vol.10, n.02, pp. 137-147. 
FERREIRA, Jansen de Queiroz. Feedback para desenvolver equipes produtivas. Disponível em: <http://carreiras.empregos.com.br/comunidades/rh/artigos/091104-feedback_equipes.shtm>. Acesso em: 10 maio 2007.

Esboçando possibilidades e desafios pedagógicos do facebook

11 de fevereiro de 2013



Estou participando de um curso de formação de tutores pela Universidade Aberta do Brasil da Universidade de Brasília, como parte da seleção de tutores para atuação no Curso de Licenciatura em Pedagogia à distância. Nesse curso de formação em EAD para tutores, estamos estudando as  Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) na Educação on-line e a atuação do tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Na semana passada, trabalhamos coletivamente na construção de um power point utilizando o Google Docs, a partir de um grupo de três pessoas (Cleverson Domingos, Fabrício Abreu e Henrique Neuto). Para construirmos essa atividade, utilizamos como ferramenta de comunicação e interação, além das mensagens via moodle, o bate-papo do facebook como forma de discutirmos em tempo real (ou síncrono) a atividade[1].

O facebook é uma rede virtual de relacionamentos, em que é possível, como diz o próprio site oficial, “se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida”. O facebook superou e, em alguns casos, substituiu o orkut - rede social criada pela Google. Ambas redes sociais foram criadas no ano de 2004. No Brasil, as redes sociais fazem muito sucesso e praticamente todas as pessoas que acessam a internet possuem um perfil nesses sites de relacionamento. Recentemente, durante a minhas atividades de tutoria no Curso de Atualização em Práticas Pedagógicas, ofertado pelo Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília, discutimos justamente a utilização das TDIC’s como instrumentos pedagógicos que podem auxiliar o processo de aprendizagem, interação e construção do conhecimento. Uma das postagens de uma professora da Bahia foi o texto 100 maneiras de usar o Facebook em sala de aula.

Esse texto apresenta diversas estratégias e possibilidades pedagógicas de utilização do facebook na área de educação, tanto presencial quanto a distância. Assim como toda atividade educativa, ao utilizar o facebook é importante definir os objetivos que se pretende atingir e, a partir disso, as formas/ferramentas que serão utilizadas para concretizá-los. Como o texto indica, podem ser desenvolvidas várias habilidades e competências com o uso do facebook e das suas ferramentas, como aquelas relacionadas a pesquisa, as relações interpessoais, a organização, ao trabalho, a comunicação, entre outras. A atividade a ser realizada, por sua vez, vai exigir a escolha de qual ferramenta da rede social utilizar. Poderão ser usados a depender da atividade o chat, os grupos[2], o feed de notícias, páginas, aplicativos, jogos, eventos, álbum de fotos e vídeos, entre outros.

No campo organizacional e educacional, o facebook tem sido utilizado por empresas e até por instituições de ensino como forma de estabelecer uma comunicação com o público de usuários interessados em acompanhar as notícias, atividades, conteúdos e serviços. Geralmente, criam-se páginas no facebook que podem ser “curtidas”. Assim, as informações postadas pelas páginas dessas instituições podem ser acompanhadas no próprio feed de notícias de cada usuário. Toda postagem ou atualização é vista em cadeia por todas aquelas pessoas que curtiram a página, sem necessitar fazer o acesso a página para acompanhar as informações (embora também exista a opção de configurar para que as informações não apareçam no feed de notícias, somente apenas quando for visitada a página).

Percebe-se que, fora esses casos em que são traçadas políticas de comunicação e marketing de empresas, marcas e instituições, o facebook ainda não é tão utilizado nos processos de ensino e aprendizagem, pensando na educação “formal” de um modo geral (seja presencial ou a distância). No entanto, como diz o texto 100 maneiras de usar o Facebook em sala de aula, “com o tempo, o Facebook tem aberto cada vez mais portas para que as escolas e professores possam usá-lo para melhorar a educação e, principalmente, a comunicação com seus alunos”. Como rede social, o facebook está presente na vida de muitas crianças e jovens, especialmente, aqueles que tem acesso as TIC’s e a internet. Trata-se de uma espaço de relacionamento e, portanto, onde acontecem processos educativos, visto que nele há pessoas que se interagem, compartilham informações e constróem conhecimentos.

Por outro lado, o facebook é também criticado, visto que muitos jovem passam muito tempo na rede social e na internet sem aproveitar as possibilidades educativas que elas lhe oferecem.  De fato, o facebook e a internet nem sempre precisam ser utilizados de forma pedagógica. O facebook, por exemplo, é utilizado mais como um espaço de entretenimento e agrupamento entre pessoas (amigos). Por outro lado, também vem sendo utilizado como uma forma de compartilhamento de informações (para além daquelas de cunho individual) e criação de grupos em torno de interesses em comum, casos em que se criam verdadeiras comunidades de aprendizagem. Não quero entrar no mérito dos “malefícios” do facebook para uma determinada geração ou do seu caráter efêmero. Do ponto de vista pedagógico, acredito que é importante saber manuseá-lo, filtrar as informações que nele circulam e desenvolver uma postura crítica perante o mesmo.

A reflexão sobre o facebook, sobre suas potencialidades e funções, pode ser uma das primeiras atividades quando pensar em utilizá-lo de forma pedagógica. Pensando na educação presencial, em primeiro lugar, percebo que o facebook se faz presente na vida de muitas crianças e adolescentes, seja em casa, nas lan houses ou na escola através dos seus telefones celulares. Às vezes, para muitas crianças e adolescentes, o facebook é mais interessante que as aulas. Assim, pensando em integrar esse público nas atividades e conteúdos escolares, o facebook poderia ser um meio de envolvê-los e de aumentar a motivação pelo estudo.  

Pensando no trabalho do tutor online, o facebook pode ser utilizado para várias atividades. Pode haver uma página no facebook da disciplina, em que o/a professor/a-tutor/a pode compartilhar informações com o seu grupo de cursistas. Além disso, pode ser criado um grupo para reunir os/as cursistas e integrá-los em uma atividade de produção coletiva que utilize o chat e o feed de notícias, por exemplo, favorecendo a interação e interatividade. Os cursistas poderão ser incentivados a criarem páginas sobre temas específicos e compartilhar conteúdos multimídias produzidos por eles próprios em suas atividades de pesquisa. Para favorecer a interação/interatividade, os cursistas poderão “curtir” as páginas criadas pelos colegas e fazer comentários e perguntas. Enfim, as possibilidades só aumentam com o desenvolvimento de novas ferramentas, aplicativos e jogos. Além disso, o facebook também pode estimular o planejamento e a realização de atividades interdisciplinares. Veja aqui uma matéria que fala do trabalho de um professor junto aos alunos utilizando o facebook

Em resumo, acredito que o facebook pode contribuir para o processo de aprendizagem construído dentro dos espaços virtuais à medida que amplia as interações para além do moodle, gerando outras formas de comunicação, construção e troca de conhecimentos. Inclusive, devido suas possibilidades pedagógicas, o próprio facebook lançou um guia que pretende auxiliar os/as professores/as do mundo a entender e aproveitar essa mídia social na sala de aula. Chamado Facebook para Educadores, o guia propõe e explica 7 maneiras com que educadores podem usar o Facebook, quais sejam: 1) ajudar a desenvolver e seguir a política da escola sobre o Facebook; 2) incentivar os alunos a seguir as diretrizes do Facebook. 3) permanecer atualizado sobre as configurações de segurança e privacidade no Facebook; 4) promover a boa cidadania no mundo digital; 5) usar as páginas e os recursos de grupos do Facebook para se comunicar com alunos e pais; 6) adotar os estilos de aprendizagem digital, social, móvel e “sempre ligado” dos alunos do século 21; e 7) usar o Facebook como recurso de desenvolvimento profissional.

Acessem o links e explorem essas potencialidades. Se quiserem me adicionem no "face": Cleverson Domingos  e lá podemos bater papo e interagir mais sobre essas possibilidades pedagógicas e os desafios a serem enfrentados com o seu uso educativo.


[1] O bate-papo do facebook permite realizar chats em grupo, bastando “adicionar amigos ao bate-papo ou a conversa”. A conferência em vídeo do facebook ainda é restrita a duas pessoas, diferente do hangout da Google que agora permite uma conferência com até nove pessoas.
[2] Os grupos podem ser de diversos tipos, isto é, grupos de amizade, de pesquisa, de interesse em torno de uma determinado assunto ou artista, entre outros. Podem ser secretos, fechados ou abertos, modificando a política de privacidade dos mesmos.