O outro eu que me assombra...

11 de julho de 2012


É. Tantos assuntos, informações, teorizações. Dominar e incorporar discussões históricas sobre quem somos e o que nos tornamos não é uma tarefa tão comum. Comum mesmo é criar narrativas sobre quem somos, quem nos tornamos, sem fazer uma reflexão sobre o que já falaram que somos e nos tornamos. Sim, é importante saber também como nos construíram socialmente e, até mesmo, cientificamente. Sim, o mundo é um quadro em que escrevemos nele palavras. E palavras tem poder. Isso vocês lembram! São as palavras que representam o mundo, aliás, são as palavras que formam o mundo! O que você é? O que é a realidade? Só saberemos responder a isso recorrendo a linguagem. Por isso, é importante dizer que a linguagem não é uma prática social neutra. Ela já comporta significados e sentidos. Ideologias e discursos socialmente construidos. É por isso que tem se tornado frequente dizer que o sujeito é discurso: aquilo que falam dele e aquilo que ele fala dele mesmo! 


Nesse jogo talvez dialético da construção do sujeito (ou do eu), geralmente, esquemos o papel que o outro representa nessa história. Em tempos em que se discute a importância do reconhecimento da diferença, trazer o outro para a discussão do eu é fundamental, aliás, obrigatoriamente necessário. Compreendemos geralmente que o eu é algo original, distinto dos outros. Eu sou isso. Eu sou aquilo. Eu não sou assim. Isso. Eu não sou. Dizer que você é alguma coisa, necessariamente, implica dizer o que você não é. A identidade, portanto, é uma cadeia de negação de diferenças (Tomaz Tadeu da Silva, Stuart Hall e Outros). Se eu sou brasileiro, quer dizer que eu não sou inglês, europeu. Sacou? O eu só pode ser em relação ao outro. Eu e outro não são opostos, são interdependentes.

Pensar que a identidade se constitui na alteridade é, portanto, algo importante de ser refletido. O outro, embora não pareça, fornece os limites e as possibilidades para a construção do eu. O outro necessariamente faz parte do construção do eu. O outro é, geralmente, esquecido, parece que não faz parte do eu. É rejeitado. Mas essa rejeição não esconde o que está por trás do sujeito, mas o que internamente o constitui. O outro não é rejeitado apenas uma vez,  porque o processo de construção da identidade é interminável. O outro nos assombra constantemente. Ele nos constitui. Fornece as bases e sustenção para o eu. Ou seja, o processo de construção da identidade esconde/revela o que fazemos com a diferença, a gênese mais profunda e fundamental eu. A diferença então não é tão rejeitada, ela é incorporada como rejeição. Assim é o 'outro' outro que aparece ou é o 'outro' reprimido que nos assombra? Negando o 'outro' eu não estaria negando eu mesmo? O outro não seria eu?

Viagem, viagens, subjetividades...Reflexões sobre eu e o meu outro.

Será que fiz uma 'boa' lição de casa ou um início de uma reflexão sobre o meu 'outro eu'? (risos)

3 comentários:

Gabi disse...

Incrivel!

CEEFMTI "ASSISOLINA ASSIS ANDRADE" disse...

Cleverson,

Adorei seu blog, parabéns!!!

Ângela Tanno

Cleverson Domingos disse...

Oi Ângela!
Obrigado por prestigiá-lo!
Um abraço,
Cleverson

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