Benigna Maria
de Freitas Villas Boas
A organização
do trabalho escolar em forma de ciclos teve início no Brasil de forma tímida.
Um ou mais ciclos têm convivido com o regime seriado em uma mesma escola. Este
é o caso do Distrito Federal, onde o Bloco Inicial de Alfabetização – BIA –
constituído pelos três primeiros anos do ensino fundamental, funciona desde
2005 em escolas convencionais. O que se observa é que o BIA nem sempre é bem
compreendido, principalmente pelo fato de as crianças não serem reprovadas
enquanto o cursam.
Quando
se discute o tema ciclos ou blocos com professores e outros profissionais da
educação, a primeira inquietação se relaciona à avaliação. É comum ouvirem-se
as perguntas: e a reprovação como fica? Quando o estudante poderá ser
reprovado? Tornou-se natural aceitar que à escola cabe reprovar o estudante que
demonstra não ter aprendido ou que não alcançou a nota mínima. Ainda não se
concebe a escola como local de aprendizagem e não de reprovação. Assim
entendida, não lhe cabe selecionar grupos: o dos estudantes que aprendem e são
aprovados e o dos que não aprendem e são reprovados. A palavra-chave é
aprendizagem. Reprovação é uma palavra fora de foco.
A escola
não-seriada, isto é, que organiza seu trabalho por meio de ciclos e abandona as
séries, assume compromisso com as aprendizagens de todos os estudantes. Esse
formato escolar não aceita a reprovação dentro dos ciclos nem na passagem de um
a outro. Não faz sentido eliminar a reprovação no interior dos ciclos e
adotá-la quando o estudante se movimenta de um a outro. Qual seria a
justificativa para isso? Parece ser aceitável que o estudante vá acumulando
necessidades de aprendizagem e que, ao final de um determinado período, ele
seja considerado incapaz de continuar seu percurso. É esta a escola que nossos
estudantes merecem ter? Esta escola é séria e justa?
Quando toda a
escola desenvolve seu trabalho de forma não-seriada, o corpo docente e as
equipes gestora e pedagógica atuam em função dos mesmos objetivos. O ciclo ou
bloco deixa de ser um apêndice: torna-se o eixo norteador de todo o trabalho.
Também os pais parecem compreender melhor o processo. Estes, sim, merecem
atenção especial de toda a equipe escolar. Afinal de contas, passaram pela
escola seriada e acostumaram-se à avaliação classificatória, punitiva e
excludente. De modo geral, não veem a possibilidade de se ter outro formato de
escola.
A escola em
ciclos tem mais chance de congregar os professores, pais e estudantes em torno
dos seus objetivos do que a convivência, na mesma escola, de ciclos e da
seriação.
No caso do DF,
que implantou o BIA em 2005, é hora de se criarem os blocos seguintes para que
se constitua a verdadeira escola em ciclos.
Comentários do Blogueiro
Encontrei esse texto como indicação de leitura da postagem A propósito da metodologia de ciclos na educação pública do Distrito Federal, no Blog do Washington Dourado. Reproduzo aqui, pois gostei das ideias da profa. Benigna. Penso que é um modelo de educação e de ensino-aprendizagem a se pensar e até em se almejar. Mas, há muitos desafios e obstáculos a serem superados para sua efetiva implantação.
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