Bolsa Universitária no DF: discriminação, exploração e utilização de “mão-de-obra barata” dos(as) estudantes e má qualidade do ensino público

19 de agosto de 2010


A Bolsa Universitária é um programa lançado no Governo Arruda, com a finalidade de oferecer bolsas de estudos para estudantes universitários sem condições de custear as despesas da formação a nível superior. Em contrapartida, os(as) estudantes contemplados(as) com as bolsas, que são de 70% ou 100%, prestam serviços ao governo do Distrito Federal.
Embora seja uma iniciativa louvável por parte do governo, a bolsa universitária do Distrito Federal utiliza da exploração de estudantes de nível superior como mão-de-obra barata para solucionar a não contratação de professores(as), monitores(as), apoio escolar e outros profissionais tanto para a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, quanto a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (SEDEST). Ou seja, substituem os(as) concursados(as), não abrem concurso e aproveitam para “lucrar” nos gastos públicos.
Além disso, o governo utiliza da ideia de que “deu” bolsas aos estudantes, sendo que esses(as) “pagam” pelo que receberam ao trabalharem na prestação dos serviços para o próprio governo, ou seja, o governo ganha com isso, se brincar, em dobro.
Tenho muitos(as) amigos(as) que são contemplados com o programa. Eles(as) me queixam da forma como são tratados, muitas vezes, humilhados(as), sendo vistos como “incompetentes” e discriminados pelos(as) outros servidores(as) de carreira.
Outra situação que enfrentam os estudantes que ganham as bolsas é que eles(as) tem que cumprir quatro (4) horas de trabalho diário, o que impede, muitas vezes, depois de aderirem a bolsa, deles(s) conseguirem um estágio remunerado ou mesmo um trabalho para arcar com outras responsabilidades do curso, como apostilas, livros, xerox, impressões, etc. Alguns estudos sobre juventudes tem apontado que se os(as) jovens precisarem escolher entre trabalho e estudo, escolhem o trabalho. Dessa forma, perdermos grande parte das “grandes cabeças”. 

Além disso, há reclamações de frequente atraso no repasse dos vales-transportes para que esses(as) estudantes desloquem-se de casa até o trabalho. Isso, muitas vezes, também acarreta relações conflitosas onde prestam esses serviços, pois são vistos como “irresponsáveis”, caso faltem ao serviço por conta de não ter o dinheiro da passagem.
Por outro lado, a iniciativa de conceder bolsas de estudos em universidades privadas também é uma forma de fortalecimento dos(as) “empresários(as) da educação”. Como defensor do ensino público, acredito que mais importante seria garantir a educação superior pública de qualidade e gratuita para todos(as), sem restrições, criando novas universidades federais e ampliando a oferta de vagas, mas não continuar investindo no setor privado ao repassar verbas ou até mesmo conceder isenção de impostos públicos em troca das bolsas para estudantes desfavorecidos economicamente.
Essas situações relatadas demonstram, em partes, o descaso com a educação no Brasil. A realidade que se observa no cenário educacional brasileiro há algum tempo é: a educação básica é valorizada quando feita em escola privada e a educação superior quando feita na pública. Com isso, observa-se que a maioria dos estudantes oriundos de escolas particulares está na educação superior pública enquanto os oriundos da escola pública estão na privada. A realidade inverte-se. A desigualdade é explicita.
Interessante é analisar a Constituição de 1988. A constituição de 1988 no artigo 208, inciso V, expressa que o dever do estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Essa “capacidade de cada um” é usada como argumento para a existência dos exames vestibulares, como instrumento para ingresso na universidade. Entretanto, o critério para seleção é de autonomia das instituições superiores de ensino. Fato capaz de fortalecer a exigência para o ingresso nas universidades públicas e ser maleável o acesso às privadas. Ou seja, o Estado só garantirá tal acesso aos ditos capazes. Em outras palavras, já pressupunha a incapacidade de muitos e a capacidade de alguns e o Estado pretendia continuar com a elitização da universidade pública, visto que restringia o acesso aos capazes, filhos de generais, governantes, juízes e autoridades em geral. Dessa maneira, cabe indagar: será já era previsto a presença majoritária de estudantes oriundos das escolas particulares no ensino superior público, em 1988?  Como se vê, a lei não era inocente.
Embora o programa Bolsa Universitária ajude a aumentar os índices de estudantes jovens no ensino superior, buscando atingir a meta do Plano Nacional de Educação, o qual expressa que até 2011, 30% dos jovens entre 18 e 24 anos deverão frequentar cursos superiores, é preciso rever e melhorar essa política. Eu, por exemplo, argumento no sentido de alocar esses estudantes beneficiados com a bolsa universitária em suas áreas de atuação, para facilitar o próprio desenvolvimento das competências exigidas pelo seu curso no mercado de trabalho. Pouco valerá no futuro um trabalho prestado em área divergente da qual esses estudantes estão se formando.
Além disso, a atitude de colocar esses(as) jovens para ministrar aulas sem o mínimo de conhecimentos pedagógicos e específicos é como se estivesse “assassinando” aos poucos essas crianças sob a responsabilidade desse jovem. E aí que pergunto: cadê a responsabilidade governamental com a educação e o ensino de QUALIDADE?
Mesmo podendo ser considerada uma política inclusiva, não garante a permanência desses estudantes no ensino superior e não oferece condições de manter seus estudos. Além do acesso ao ensino superior é preciso garantir a permanência que custa caro e muitas vezes é motivo para a desistência.
É importante ter uma visão crítica desses “programas sociais”, por isso resolvi fazer essa postagem. Precisamos formar jovens críticos(as), politica e academicamente, com pensamento autônomo e capacidade de agir sobre a realidade. Discriminação, exploração, uso de mão-de-obra barata dos estudantes e má qualidade do ensino são situações que merecem ser “reprovadas”!

15 comentários:

Unknown disse...

O pior disso tudo é que o governo usa nossa mão-de-obra barata e não ganahmos nem um auxilio por isso, essa contra-partida ocupa todo o meu tempo e não tem como eu ganahar uma grana para as minhas necessidades BÁSICAS.
colocaram um monte de minitores DESPREPARADO para assumir turmas enormes e muitas vezes temos que substituir professores que faltam.

Unknown disse...

mas também bolsista tem é que sofrer por ser uma classe tão desunida.
tem gente numa gente que teve que largar o emprego para poder prestar a contra-partida absurda de 4 horas semanais que é totalmente desproporcional e da SEDEST. ou seja quem tem condições de pagar 30% tem o direito de trabalhar menos.

Unknown disse...

tem gente que fala assim:
_ a mas vc assinou o contrato então vc sabia que iria ter que cumprir as 4 horas, e tambem sabia das condições do projeto. AAAAAAAAAAA gente !!! vamos largar de ser vítimas dessa corrupção será que temos que aceitar tudo o que esse deputados (F.D.P) nos empurra ??? eu não posso lutar por melhoras no projeto tando fora dele.primeiro eu assino o contrato, entro e vou lutar por melhoras só porque assinei o contrato não que dizer que vou ter que ser um escravo do século 21. ou tira essa contra-partida ou nos da auxlio mesnsal para continuar na faculdade. todos sabem que faculdade não é só mensalidade temos que vestir, alimentar , tirar muitas cópias de materiais. e ainda tem os congresso do curso , que eu vejo a galera da sala que tem condiçoes indo e eu o bolsista escravo fico só chupando dedo

Fernanda Rios disse...

É isso aí Xester Arrasou no comentário! Chega de escravidão. Queremos nossos direitos. E o que mais desejamos é o mais simples de todos...Sermos tratados como Cidadãos!

gigi disse...

ultimamente so me vem a mente que preciso conseguir um emprego que me de condiçoes de pagar as mensalidades do meu curso e sair fora da contrapartida.

EDUCAÇÃO GERAL disse...

Mobilização e luta, os argumentos estão aí. Todos pela educação de qualidade e gratuita para os que necessitam, ou simplesmente cumprir o que manda a Constituição Federal.

Unknown disse...

O felipe está certo , tinha que pegar a verba da copa e das olimpiadas e investir em educaçao. um pais com uma educaçao falida não merece sediar nada !!! o governo é muito esperto mesmo , corta a verba da educação e saúde para construir estadios. onde vamos parar desse jeito ?

Liliane Gomes da Cruz disse...

ADOREI SUA INICIATIVA DE ESCREVER SOBRE ESSE PROGRAMA...TENHO PASSADO POR HUMILHAÇÕES TERRÍVEIS, ALÉM NOS EXIGIREM UMA QUALIFICAÇÃO QUE NÓS NÃO DISPOMOS, POIS NO MEU CASO ESTUDO DIREITO E SINCERAMENTE NÃO DETENHO NENHUMA HABILIDADE COM O RAMO DA PEDAGOGIA.REALMENTE É UUM DESCASO COM A EDUCAÇÃO.

Cleverson Domingos disse...

Olá Xester, Fernanda, Educação Geral e Liliane!
Agradeço os comentários de vocês!
É complicado expressar opiniões. É como se fosse "colocar nossa cara a tapa"! De qualquer forma, estou precisando colocar a minha! Não sou totalmente contra o programa, espero que isso tenha ficado claro! Porém, tenho minhas críticas e propostas de melhora! De nada adianta criticar, sem propor melhoras! Encarar o programa como uma questão de "escolha" é uma atitude "acrítica". Não se trata de escolher ou não permancer no programa, se não está satisfeito/a, porque para muitos(as) a escolha por permanecer é a ÚNICA que eles possuem. Estou com vocês! Se não for hoje, imediato, podemos a longo prazo influenciar no sentido de melhorar o programa, levando essa fala a Conferências, Congressos, Gabinetes, etc...Abraços! Força e luta!
Cleverson

Unknown disse...

ESQUECERÃO DE CITAR O FATO QUE OS BOLSISTAS DE 70% SO CUMPREM 4 HORAS SEMANAIS ENQUANTO NOS DE 100% CUMPRIMOS 20 HS.ESSA BOLSA TINHA QUE SER MUITO DIFERENTE A COMECAR PELA COMTRAPARTIDA QUE DEVERIA SER NA NOSSA AREA DE ESTUDO E DEVERIAM DIMINUIR ESSA CARGA HORARIA POIS NAO SOBRA TEMPO PARA ESTUDAR JA QUE SE NOS FOMOS REPROVADOS EM MAIS DE UMA MATERIA PERDEMOS A BOLSA, SEI QUE ALGO TEM QUE SER FEITO POR QUE COMO ESTA NÃO DA PRA FICAR

Unknown disse...

PARABÉNS PELA SUA INICIATIVA, VOCÊ NÃO TEM IDÉIA DO QUE OS ALUNOS DA BOLSA DE 70% QUE PRESTÃO SERVIÇOS NOS FINAIS DE SEMANA VEM SOFRENDO, TODAS AS HUMILHAÇÕES.

Unknown disse...

Realmente, essa contrapartida é sofrida! Existem casos de pessoas que comem apenas na escola q está fazendo contrapartida, mas a direção proibiu o monitor de comer lá, ele desmaiou na escola e ficou por isso mesmo. As pessoas para concluir o curso, ñ pode trabalhar, com isso ñ tem material de estudo pois ñ pode comprar, ñ tem alimentação, e ainda ñ pode reprovar se ñ perde a maldita bolsa escravo.

Unknown disse...

Ainda por cima com o novo governo que vem pela frente,o governo de Agnelo queiroz quer cortar 50% dos bolsitas dos para dar ênfase a sua campanha política.Isso é um absurdo.

Unknown disse...

Isso é uma vergonha mesmo, falam que dão bolsa, mas escravizam-nos e nos humilham também. Porque não temos experiência para trabalhar com crianças. Ficamos sozinhos em sala de aula com mais de trinta crianças. Não temos o menor tipo de treinamento para lidar com a situação...

liamenezes disse...

JÁ QUE TEMOS QUE TRABALHAR. POQUE NÃO NA ÁREA EM QUE ESTAMOS ESTUDANDO?SERIA MENOS PIOR SE É QUE EXISTE TAL
PALAVRA.

Postar um comentário

Você gostou dessa postagem? Deixe aqui um comentário!