Vamos pensar um pouco... |
Ultimamente, escutei dois depoimentos, da mãe do Alexandre Ivo que foi assassinado e do rapaz agredido na Avenida Paulista, que me causaram certo desconforto devido à compreensão sobre o que é a homofobia.
Pareceu-me que as pessoas entendem a homofobia apenas como preconceito, discriminação, intolerância ou violência contra homossexuais.
O grifo no “apenas” é proposital. A homofobia, embora englobe práticas discriminatórias contra homossexuais, é algo maior que isso. É um problema que não atinge apenas homossexuais. É um problema que atinge também – ou principalmente – os(as) heterossexuais.
Para ter uma idéia do que é a homofobia precisamos discutir, em minha opinião, primeiramente, a misoginia – ou seja – a aversão contra tudo que é feminino. Ser feminin@ é feio?
Por outro lado, as lésbicas também são alvos da homofobia ou, como elas preferem chamar, da lesbofobia. Mulheres não podem adotar determinados comportamentos ou características consideradas culturalmente como masculinas?
Nesse ponto, podemos perceber que a homofobia é o preconceito contra todas as pessoas que não cumprem o rol de gênero dominante – ou seja – não se comportam de acordo com as características arbitrariamente eleitas como “próprias” de determinado sexo.
Prado (2010, p. 8) nos convida a pensar a homofobia como um “[...] dispositivo de vigilância das fronteiras de gênero que atinge todas as pessoas, independente da orientação sexual, ainda que em distintos graus e modalidades”.
Segundo Welzer-Lang (2001), a homofobia não atinge apenas aquelas pessoas que pertencem as minorias sexuais, mas também todas aquelas que são vistas, ou se apresentam, com características consideradas divergentes ou ocupando em determinadas circunstâncias comportamentos considerados “impróprios” para seu gênero. Para Welzer-Lang (2001), a homofobia é produzida pela dominação masculina que ameaça os homens a se calcarem nos esquemas ditos normais da virilidade, mas também as mulheres aos padrões “normais” de feminilidade.
Acredito que é fundamental ter essa visão mais ampla do fenômeno da homofobia para não cairmos no risco de “estereotipar” a homofobia como uma atitude apenas contra homossexuais ou LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Com essa visão, penso que é possível, inclusive, convencer mais simpatizantes e heterossexuais sobre as implicações da homofobia em suas próprias vidas – mostrando que “isso acaba prejudicando e limitando a todos, mesmo os que não se sentem homossexuais, que também ficam limitados às mesmas práticas e atributos determinados como masculinos, ligados a uma identidade homogênea de homem e de heterossexualidade” (FERRARI, 2007, p. 9). No caso das mulheres, elas ficam limitadas as práticas e comportamentos determinados como femininos, ligadas a uma identidade hegemônica de mulher.
REFERÊNCIAS
FERRARI, Anderson. O quê se fala e o quê se cala sobre o homoerotismo masculino: discursos, práticas e posturas dos professores diante do fato e do assunto. Disponível em: <http://168.96.200.17/ar/libros/anped/1412T.PDF>. Acesso em: 26 dez. 2010.
PRADO, Marco Aurélio Máximo. Homofobia: diversos fenômenos sobre o mesmo nome. In: BORRILO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Autência, 2010.
WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. In: Revista Estudos Feministas, Florianópolis, ano 9, n. 2, p. 460-482, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2001000200008&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 6 dez. 2010.
SUGESTÕES DE LEITURA
JUNQUEIRA, Rogério. Homofobia: limites e possibilidades de um conceito em meio a disputas. In: Bagoas: Estudos Gays gêneros e sexualidades. v. 1, p. 1-22, 2007. Disponível em: http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v01n01art07_junqueira.pdf Acesso em: 6 dez. 2010.
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