Peça Medeia de graça

2 de junho de 2011


Foto: Daniel Fama

Para quem curte teatro, não pode perder esse espetáculo!

Da obra de Eurípedes, Medeia foi encenada pela primeira vez em 431 a.C, obtendo naquela ocasião o terceiro lugar no famoso concurso teatral das Grandes Dionísias, em Atenas. Numa época em que o Teatro era um dos principais responsáveis pela formação moral, ética e intelectual do homem grego. Os textos teatrais baseavam-se nos mitos daquele tempo para apontar problemas socioeconômicos, culturais e políticos, em particular do cotidiano do povo ateniense, “centro do mundo, até então”, na intenção de levantar discussões favoráveis ao desenvolvimento cívico, religioso, humano etc. de seus patriotas-espectadores.


Tendo por base o mito grego, A saga de Medeia narra a vingança da destemida Medeia contra o esposo, Jasão, depois que ele a rejeita para se casar com a filha (princesa Glauce) do rei de Corinto, Creonte. Movida por emoção, paixão e orgulho ferido, Medeia decide fazer “justiça” com as próprias mãos para fazer Jasão sofrer tanto quanto ela está sofrendo; para isso, mata os próprios filhos e foge para Atenas, onde o Rei Egeu lhe ofereceu abrigo e proteção. 

Montagem encenada por “Os Paquidermes Cia. de Teatro”, a ideia é de levantar para plateia a mesma questão do autor, só que por outro ângulo: Medeia é vítima ou culpada? Medeia ama ou odeia? Etc. Já que para Jasão, todo o seu “feito” foi para aproveitar "uma oportunidade única" (de cunho político) que se lhe apresentava na vida naquele momento.

A peça, que tem duração de 50 minutos, se passa na entrada da casa de Medeia, o que fez com que a direção optasse por não usar cenário, deixando tudo para o imaginário do espectador, de modo a fazer que a plateia não desprenda a atenção da interpretação dos dez atores que representam os personagens da estória: quatro no Coro, uma Corifeia, Medeia, Jasão, Creonte, Ama e Tutor.

Sob a direção e adaptação de Júlio Cruccioli, o enredo do mito dessa tragédia grega nunca perdeu seu curso na história da humanidade e jamais deixará de ser atual, como se vê, por exemplo, em tantos noticiários de mães, amantes ou pais que matam os próprios filhos ou os de terceiros para atingir a moral e os sentimentos de seus pares. Daí, ainda hoje, como toda grande metáfora, infinitas interpretações e analogias podem ser feitas, partindo do princípio de pôr em pauta a questão levantada por Eurípides: “Quem começou essa espiral de horrores, Medeia ou Jasão? Só os deuses sabem.”

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Medeia foi uma mulher subversiva e, decerto, o drama também. Como dito, há diversas representações de Medeia ao longo de sua história, desde mostra, louca até uma mulher bastante consciente e corajosa. Passada na Grécia, em uma época em que as mulheres eram submissas, educadas para serem esposas virtuosas e para terem filhos, Medeia talvez desafie essa “educação grega”. O fato é que Medeia ainda traz questionamentos, entre outros, sobre a “natureza” feminina e a maternidade: há natureza feminina? Todas as mulheres são iguais? A maternidade é um “destino”? Há “instinto” materno?

Medeia nos convida a sair do “imobilismo” e começar a agir e pensar sobre os valores da nossa sociedade e nossos próprios sentimentos. É uma peça que não se limita ao lugar e ao tempo em que foi criada, pois podemos fazer contextualizações com a nossa própria vida social. Para mim, é fascinante a questão da representação de Medeia, como uma mulher questionadora das relações sociais desiguais entre homens e mulheres daquela época (ou ainda da nossa?) e o “fardo” que elas carregam dessas relações.  

“… multiplico essa má sorte. Para uns eu sei demais e por isso me odeiam, outros não me entendem e me acham fechada, e para outros sou exatamente o oposto…” (Medeia)

Diante disso, vale a pena assistir ao espetáculo para tirar as próprias conclusões. 

Espero vocês por lá! 

Veja dias e horários no flyer!           

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