Nossa, esses últimos tempos, andei viajando literalmente pela Sociologia, Antropologia e História do Corpo. Está sendo muito bom. Estou repensando tantos conhecimentos. Sabe aquele lance construção, descontrução e reconstrução? Recomendo! Cheguei a reconstruir a história da educação do meu próprio corpo. Relembrei meu corpo na escola. Repensei meu corpo na vizinhança, na família, nos círculos de amizade, no mundo. Interpretei, e continuo percebendo, as marcas inscritas em meu corpo. Marcas culturais que coloca(ra)m e que eu coloco nele. Sim, se é o meu corpo, é melhor eu me pronunciar/marcar, antes de que qualquer um se aposse dele. Já estava reconstruindo...
Enfim....Foi e está sendo muito bom e prazeroso. Conhecer e interpretar o corpo, desse modo que estou fazendo, exige primeiramente reconhecer que o corpo é um fato social total (MAUSS, 1974), ou seja, que envolve dimensões biológicas, psicológicas e sociais. No entanto, como estamos falando em Sociologia, Antropologia e História do Corpo, o olhar está mais voltado não para a sua dimensão biológica (o corpo dado), mas para a sua dimensão social e política (o corpo como construção).
Já parou para pensar nisso? Não é muito difícil. Eu gosto de pensar como as diferenças são construídas. Distinguimos os corpos na cultura. Na cultura, eles ganham sentidos e significados, ou melhor, marcas culturais. Há corpos com marcas de classe, gênero, raça, sexualidade, geração, etc...Há uma infinidade de corpos, o que nos impede de pensarmos apenas no corpo, por exemplo. Além disso, geralmente, criamos uma hierarquia social dos corpos. Alguns corpos tem mais "valor, são mais bonitos, limpos, perfeitos" que outros. Em suma, as marcas corporais, produtos da natureza e/ou da cultura, constituem-se em sistemas de classificação e distinção, ligadas às relações de poder, que (re)produzem assimetrias, desigualdades, preconceitos, violências.
Enfim, o corpo é cultural e político e, por isso, é também um corpo educado/educável. Somos educad@s desde pequen@s a construir nossos corpos de determinadas formas e dentro de determinados padrões. Somos recrutad@s pela indústria da publicidade, da moda, das cirurgias estéticas, entre outras, para que construamos nossos corpos dentro dessas normas que são consideradas normais/naturais: sadios, bonitos, magros para mulheres, musculosos para homens, etc. Mas não são tod@s que se homogenizam, se padronizam. Há corpos resistentes ao processo de homogenização social. Aqueles/as que, além/apesar de não se interessarem muito por esses assuntos, estão afim mesmo de serem diferentes. Afinal, não estaríamos tod@s nesse mundo, buscando a mesma coisa? Costumo observar muito as pessoas buscando ser diferentes, ter um jeito próprio, único, singular. Mas aqui está a questão 'etnocêntrica': por que só o nosso modo de ser e estar no mundo é o normal? Por que queremos que todas as pessoas sejam assim, ou assado? Por que temos e para quem servem nossos padrões?
Em uma postagem anterior (ver aqui), falei sobre o processo de construção da identidade e sobre o quanto o "outro" é fundamental nisso. A pergunta que sempre gosto de fazer é: negando o outro, sua cultura, seus saberes, suas diferenças, não estaríamos negando a nós mesmos? Tem gente que diz que sim...
Num sei responder. Só sei que é preciso pensar!
Abaixo os slides do seminário que apresentei sobre o capítulo "O corpo sexuado" do livro
História do corpo: as mutações do olhar: o século XX (2008), de CORBIN,
Alain et al (Orgs.).
0 comentários:
Postar um comentário
Você gostou dessa postagem? Deixe aqui um comentário!