Nos últimos tempos, tenho lido muita coisa. Prefiro a leitura de artigos, livros, dissertações e teses no campo da pesquisa de gênero e sexualidade. Gosto dessa área, talvez por ser um campo "intolerável" para muita gente, como diz a historiadora e educadora Guacira Lopes Louro. Ontem, pesquisando na web sobre os conflitos que giram em torno do Bar Barulho, localizado no Parque da Cidade, pude encontrar o artigo de Marcelo Teixeira. O artigo chamado Configurações espaciaise formações identitárias: conflitos, resistências e revanchesem um bar gay popular, foi apresentado no III Seminário Internacional Urbicentros, no final de 2012, em Salvador-BA, e é fruto da pesquisa de mestrado que Marcelo desenvolve pela Universidade de Brasília.
Neste artigo, Marcelo nos explica um pouco “o que está em jogo” nos constantes fechamentos do Bar Barulho, nesses últimos anos. Afinal, só pela minha lembrança, o Barulho foi fechado duas vezes: uma em 2007 e outra em 2012. Marcelo fala especialmente do último fechamento do Bar e aponta pontos fundamentais para entendermos esse “contexto”, mas principalmente reafirma a importância do Bar Barulho nas práticas culturais e de formação identitária da comunidade LGBT “menos abastada” do Distrito Federal e entorno. Sem dúvidas, o Bar Barulho representa mais que só um espaço de paquera ou um ponto de encontro das juventudes brasilienses LGBT. Trata-se de um lócus de (re)criação da cultura, de formas de expressão, de corporalidades, isto é, um importante espaço de formação identitária individual e coletiva, como o próprio Marcelo afirma.
Além do artigo, recomendo também o vídeo “Braqueza, ordem e concreto” que retrata a “Operação Moralização das Áreas Públicas” do Distrito Federal, que além do Bar Barulho, teve também como alvo principal o Setor Comercial Sul, área hoteleira e comercial de Brasília, frequentada na noite pelas travestis e garotas de programa. Nesse vídeo, percebemos o fenômeno da higienização do espaço público, com o objetivo de restaurar o que chamam de “moral e bons costumes”, retirando dali o “outro indesejável”, ou como diz o policial, aquela “gente que não está de acordo com a sociedade”, no caso, as travestis e trans que se prostituem. Nesse vídeo, uma das travestis dá uma lição de “direito” para os “operadores e aplicadores da lei”: “...se você tem documento, você tá legalizada, não é verdade isso gente? Agora se você tá aqui com direito, é maior de idade, você tá aqui porque você quer. Você concorda comigo?."
Para
saber mais sobre as peculiaridades do Barulho em relação a outros espaços de
socialibilidade homoerótica do Distrito Federal e um possível processo de “gentrificação”
ou revitalização do lugar, ver também QUEIROZ,
Cristina Monteiro de. Estigmas, guetos egentrificação: a segregação homossexual em Brasília. 119 f. 2008.
Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2008; Para saber mais a respeito da "Operação Moralização de Áreas Públicas" ver MACDOWELL, Pedro de Lemos. O espaçodegenerado: ensaio sobre o lugar travesti na cidade modernista. 2011. 99 f. Dissertação
(Mestrado em Antropologia)-Universidade de Brasília, Brasília, 2011. Para saber mais sobre como os coletivos LGBT se organizam no Distrito Federal, ver também MATOS, Karla Joyce de Freitas. Rede “Arco-Íris”: Um estudo sobre a articulação política do movimento LGBT do Distrito Federal. 2010. 120 f. Monografia (Ciências Políticas) - Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
2 comentários:
Cleverson, você poderia me passar o documento A mulher na educação brasiliera que você postou no Scrib? Estou precisando muito para escrever um artigo... eu agradeceria muito sua atenção
caolcosta@hotmail.com
Oi Carol! Já enviei para seu e-mail! Obrigado!
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