A formação permanente na SEDF: tempo de mudanças?

12 de março de 2013



A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua actividade docente. Esta actividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática. (Carta de Paulo Freire aos Professores)”


Recentemente, o professor Mário Bispo publicou o texto “Por uma política de estado para a seleção e formação de educadores” no Blog do Washington Dourado, na qual expõe sua preocupação com a formação dos/as professores/as e orientadores/as educacionais que atuam (e/ou vão atuar) na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF). No seu texto, ele argumenta a favor de algumas mudanças nos processos seletivos para professores/as que vão atuar na SEDF, seja os processos simplificados para professor/a temporário, seja nos concursos públicos. 

Dentre essas mudanças, o professor Mário Bispo destaca que os conteúdos dos processos seletivos simplificados e dos concursos públicos estão muito aquém do que se espera em uma seleção de profissionais de educação (professor/a e orientador/a). Cobram-se conteúdos como “direito administrativo com uma ênfase exagerada em processos legais em detrimento do item relativo ao próprio regime jurídico dos servidores públicos” (p. 1). Além disso, a prova de atualidades não faz “nenhuma questão concernente às atualidades educacionais” (p. 1). 

Outro ponto, talvez o mais polêmico, é em relação à falta “de provas discursivas e provas práticas em um concurso para professor” (p. 1), tal como ocorre em outros Estados brasileiros. O professor Mário Bispo questionou por que são exigidas provas práticas para os candidatos de língua estrangeira e música e não se faz essa mesma exigência para os/as candidatos/as aos cargos de Sociologia, Filosofia, Artes, Matemática, Atividades, dentre outros. Talvez por conta do que ele mesmo argumenta a favor: por falta de uma política de estado para a seleção e formação de educadores.

Em seu texto, concordo com seus posicionamentos sobre os conteúdos previstos nessas provas, ou a falta de conteúdos que talvez devessem ser priorizados em invés de outros. No entanto, não me arrisco a dar minha opinião sobre as provas práticas (ainda), pois vejo que é uma discussão atual, pelo menos no âmbito do DF e ainda não tenho uma posição definida em relação a isso. Contudo, concordo que a SEDF tem uma “cultura institucional própria”, com muitos documentos, diretrizes e práticas que precisam ser incorporadas pelos/as novos/as professores/as e pelos professores/as em regime de contratação temporária.  

Por isso mesmo que venho “endossar o caldo” e ampliar as reflexões que o professor Mário Bispo fez, mas no sentido de refletir sobre a formação permanente desses/as professores/as. Mesmo que a ideia de formação permanente seja válida para superar as concepções de formação inicial e continuada (como destaquei na frase do Paulo Freire, lá no ínicio), vou focar mais na formação continuada (estamos acostumados/as a pensar nessa divisão!), visto que foi esse o tema que me despertou maior aflição e indignação nesses últimos tempos. Começarei pela formação ofertada pela EAPE para os/as novos/as professores/as nomeados/as e, por último, falarei sobre os cursos aceitos para progressão na carreira do Magistério Público do Distrito Federal. 

Inicialmente, considerei a proposta de formação dos/as novos/as professores/as nomeados/as louvável. Como disseram no próprio curso de formação, estes/as novos/as professores/as estão tendo o privilégio de fazer um curso de formação antes de entrarem na regência de classe, o que não ocorreu com muitos/as outros/as professores/as efetivos/as. De fato, o curso foi positivo, embora muito questionável também.  Quebrando minhas expectativas de formação, confesso assustei-me quando soube que o curso era só de 20 horas. Não apenas eu, outras colegas também[1]. Aí a primeira pergunta é: 20 horas são ideais para formar um/a professor/a?

Minhas expectativas eram que o curso tivesse mais horas (pelo menos 30 horas, para já contar na progressão por mérito) e que as reflexões fossem ampliadas em um ambiente virtual de aprendizagem, em que os/as novos/as professores/as pudessem debater mais sobre a legislação, direitos e deveres, orientações pedagógicas diante de situações problemas, a política educacional adotada pela SEDF, entre outros assuntos[2]. No entanto, para completar a minha decepção, além da carga horária ser ínfima, a atividade “online” disponibilizada para cumprir às 8 horas restantes da formação se resumiu no estudo do Projeto Político Pedagógico (PPP) Professor Carlos Mota e do PPP da unidade escolar. E o mais problemático a meu ver: fizerem duas questões objetivas e uma questão dissertativa para “avaliar esse estudo”

Aí pergunto, como o professor Mário Bispo, e amplio: como desenvolver a “habilidade (prevista nas normas da SEEDF) de redigir projetos que favoreçam o desenvolvimento pessoal e social do\a aluno\a", se a própria SEDF exige, na própria formação que oferece, que se dê “qualquer tipo de resposta” em uma atividade que deveria envolver estes/as novos professores/as e exigir uma reflexão mais aprofundada?

Por fim, gostaria de falar sobre os cursos para a progressão na carreira do Magistério Público do Distrito Federal. Vejamos o que diz o artigo 31 da Portaria Nº. 255, de 12 de dezembro de 2008, que disciplina sobre a aplicação da Lei nº. 4.075, de 28 de dezembro de 2007, que dispõe sobre a Carreira Magistério Público do Distrito Federal:

31. Os cursos de atualização, aperfeiçoamento e formação aceito s para fins de concessão da progressão por mérito serão ofertados pela EAPE, instituições de ensino superior devidamente reconhecidas pelo MEC, entidades classistas  representativas dos servidores da Carreira Magistério Público do Distrito Federal, bem como por instituições credenciadas pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal”.
31.1. Os cursos de que trata o item 31 devem perfazer um total de 180 (cento e oitenta) horas, sendo que pelo menos um curso deverá ter carga horária mínima de 90 (noventa) horas e os demais de, no mínimo, 30 (trinta) horas.
31.1.1. Para completar as 180 (cento e oitenta) horas previstas no subitem 31.1, o servidor poderá utilizar certificados de cursos, congressos, conferências e seminários, desde que os mesmos tenham carga horária mínima de 30 (trinta) horas.


Olhem só! Talvez esteja me metendo onde não devia (muit@s amig@s vão me falar isso, eu já sei!). Claro que como todo/a e qualquer professor/a, interesso-me pela progressão na carreira, principalmente, devido às recompensas financeiras e, também, claro, pelas vantagens de ser um/a professor/a bem qualificado/a. No entanto, fiquei muito triste em descobrir como é o modelo da maioria dos cursos de formação continuada para professores/as de grande parte das instituições credenciadas pelaSecretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Antes de qualquer coisa, quero salientar que tenho experiência na área de educação á distância e formação especializada e acredito que a educação à distância não é “moleza”, como muit@s pensam. Em alguns casos é até mais “puxada” que o presencial. 

Dito isso, percebi que os cursos ofertados pelas instituições credenciadas pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal são baseados no modelo de educação à distância, porém no modelo que predominou na primeira geração da EAD, em que existiam os cursos por correspondência: você compra o material de estudo, estuda e marca X nas questões avaliativas. Não é que aqui, e lá no curso que falei de formação da EAPE, volta à pergunta feita pelo professor Mário Bispo: será que uma prova objetiva de marcar X é suficiente para avaliar o domínio de tais capacidades? 

Concordo que muitos cursos podem ser feitos nesse modelo, pois são cursos de domínio teórico, voltados a aquisição de conhecimentos. Porém, nos cursos voltados para a aquisição de competências e habilidades, como os cursos da área de educação especial e inclusiva, fiquei pensando de novo: como pode um curso de marcar X lhe habilitar para assumir uma turma de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), por exemplo? 

Infelizmente, é isso que acontece. Como uma amiga me disse: “é o famoso apostilão”. Diante dessas questões, começo a entender porque muit@s professores/as desistem de fazer cursos de formação “continuada” que exigem uma reflexão aprofundada sobre determinados conteúdos: pois são cursos que “cobram” demais, são “puxados”. Para que me dedicar a um curso, se eu posso comprar um apostilão? Então, também considero fundamental repensar a formação!


[1] Embora alguns se questionaram da proposta da atividade “online” do curso, que se resumia em perguntas simples, duas objetivas e uma dissertativa, outros colegas gostaram. Como disseram na Comunidade dos Professores Aprovados, “ótimo, menos trabalho kkkkk” (professora), ou “Eape, bah, todo mundo faz este curso. Chato e enrrolativo” (professor).
[2] Minha colega de trabalho que foi empossada no ano passado disse-me que o curso que fez de ingresso na carreira também não foi legal, pois eram feitas perguntas para os/as formadores/as no ambiente virtual e elas não eram respondidas. Parece-me que no ano passado utilizaram o ambiente virtual e talvez por essa problemática e por outras que não sei, decidiram não utilizar esse modelo neste ano de 2013.

O feedback no processo de aprendizagem online: desafios, cuidados e possibilidades

26 de fevereiro de 2013





Feedback é uma palavra inglesa composta pelos radicais feed (alimentar) e back (voltar), gerando a expressão realimentar ou retroalimentação. A palavra é utilizada em diversas áreas do conhecimento, como Administração, Engenharia, Psicologia e Educação. Na educação, um exemplo de feedback é o/a professor/a explicar a matéria e perguntar para o/a estudante o que entendeu, ou seja, o/a professor/a estaria recebendo um retorno por parte do/a aluno/a daquilo que ensinou. Outro exemplo é quando o/a professor/a emite um comentário sobre uma atividade que o/a estudante fez, buscando apontar se atendeu aos objetivos da atividade ou se ainda precisa avançar em alguns aspectos, seja na compreensão do conteúdo, na formatação do texto e na exposição de suas ideias. 

No âmbito das relações interpessoais, lidamos com o feedback a todo momento, ora para expressar algo que gostamos ora para expressar algo que não gostamos. Entretanto, quando falamos em feedback na área de educação é importante compreender que ele não se resume a essa simples questão de gostar ou não. O feedback na área de educacional está relacionado com a avaliação formativa. De acordo com Kraemer(2005), a avaliação formativa representa o principal meio através do qual o/a estudante passa a conhecer seus erros e acertos, e assim encontra maior estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos. Por ser uma estratégia de avaliação formativa, torna-se importante saber dar feedback ao aluno/a, tanto como forma dele saber como está seu desenvolvimento e aprendizagem, quanto como modo de apontar aprendizagens que precisam ser desenvolvidas.


Com base nessas considerações iniciais, buscarei refletir sobre o feedback na área de educação, especialmente, no campo da educação a distância. A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade de educação mediada pelo uso de tecnologias da informação e da comunicação, em que nem sempre o “aluno” e o “professor” ocupam o mesmo espaço e se comunicam no mesmo tempo. Nesse sentido, fazer feedback no processo de aprendizagem é uma prática que envolve desafios, cuidados e possibilidades. Pela própria natureza da comunicação online, em que nem sempre é possível identificar as intenções e sentidos em uma mensagem escrita, torna-se fundamental desenvolver uma comunicação modelada, que evite palavras dúbias, seja objetiva e construtiva. Como diz Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), nos processos de aprendizagem online “a palavra escrita passa a ter novo valor”. Assim, além de prezar pelas normas gramaticais, é fundamental que o feedback seja cordial, lembrando que não se trata de menosprezar a atividade do aluno, mas de conforme afirmam Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), “mostrar ao estudante se ele está no caminho certo ou nao”.

Ainda sobre os cuidados, a comunicação, por meio do feedback, exige levar em conta que o aluno é um adulto, não um ser incapaz, como relata a professora Denise de Abreu e Lima no vídeo abaixo. Ao conceber o aluno como um adulto, deve-se evitar reproduzir as relações que geralmente prevalencem nos processos de aprendizagem presenciais. Ao considerar o aluno como uma pessoa capaz de construir seus conhecimentos, de se superar, é importante estabelecer uma comunicação que valorize a participação e aponte, de forma sutil, os pontos que ainda precisam ser aprofundados. É isso que algumas pesquisadoras, dentre elas a professora Denise de Abreu e Lima tem chamado de “comunicação modelada”, ou seja, a importância de não ser omisso quanto os resultados apresentados, mas ao mesmo tempo não fazer juízos que simplesmente apontem o “erro” e não dê oportunidade da pessoa refletir sobre o que precisa melhorar para avançar na aprendizagem. Portanto, uma comunicação modelada e respeitosa é um dos cuidados. 

Há inúmeros desafios na prática do feedback, e levar em consideração os cuidados supracitados é uma forma de superar alguns deles. Um desafio da tutoria online e do feedback é responder ao cursista sempre em tempo ágil. De acordo com as atribuições do Tutor do Sistema UAB/CAPES,  o profissional selecionado para realizar a tutoria Tutor deve manter regularidade de acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responder às solicitações dos alunos no prazo máximo de 24 horas. Nesse sentido, o feedback deve ser dado rapidamente, visto que os conteúdos e as atividades programadas de um determinado tópico geralmente ocorrem no prazo de uma semana. No caso do feedback das atividades, também é fundamental que seja feito assim que o cursista encaminhe a atividade pelo recurso específico, pois assim é possível realizar uma pré-correção e avisar o cursista, caso seja necessário, que necessita refazer determinado aspecto e enviar novamente a atividade para que atenda aos objetivos traçados. 

Com relação as possibilidades do feedback, geralmente, conforme comentam Mill, Abreu e Lima e Lima (2008), “os educandos reagem favoravelmente ao contato frequente e ao feedback dos tutores, especialmente em estagios iniciais das atividades sugeridas no ambiente virtual” (p. 123). Assim, o feedback tem o potencial de incentivar a reflexão por parte do cursista de seu próprio processo de aprendizagem, além de motivá-lo a superar as suas próprias dificuldades. É por meio do feedback que se pode alertar ao aluno se os objetivos estão sendo cumpridos ou se há competências que necessitam ser aprendidas. Portanto, o feedback, se bem utilizado, trás como possibilidade o desenvolvimento da aprendizagem. 

Para finalizar, é importanter compreender que o feedback não deve ser confundido com crítica. Para Ferreira (2007), o feedback é “um processo de ajuda mútua para mudanças de comportamento, por meio da comunicação verbalizada ou não entre duas pessoas ou entre pessoa e grupo, no sentido de passar informações, sem julgamento de valor, referentes a como sua atuação afeta ou é percebida pelo outro e vice e versa”. A crítica, ao contrário do feedback, “é um processo de comunicação verbalizada ou não, entre duas pessoas ou entre pessoa e grupo com o objetivo de passar nossos valores de certo e errado, geralmente traz consigo a intenção  de acusar, julgar e condenar e, não raro, com intensa carga emocional dos interlocutores”. Em síntese, feedback é uma resposta, ou seja, a emissão de alguma mensagem que venha ajudar o/a aluno/a. 

No vídeo abaixo, a professora doutora Denise de Paula Martins de Abreu e Lima, professora na UFSCar, coordenadora adjunta da UAB-UFSCar e doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp fala sobre as interações interpessoais no ambiente online e as formas ideais de se fazer feedback no processo de aprendizagem online.




REFERÊNCIA

MILL, Daniel; ABREU-E-LIMA, Denise; LIMA, Valéria Sperduti. O desafio de uma interação de qualidade na educação a distância: o tutor e sua importância nesse processo. In: Cadernos da Pedagogia, Ano 02, Volume 02, Número 04, agosto/dezembro, 2008. 
KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. A avaliação da aprendizagem como processo construtivo de um novo fazer. Avaliação (Campinas) [online]. 2005, vol.10, n.02, pp. 137-147. 
FERREIRA, Jansen de Queiroz. Feedback para desenvolver equipes produtivas. Disponível em: <http://carreiras.empregos.com.br/comunidades/rh/artigos/091104-feedback_equipes.shtm>. Acesso em: 10 maio 2007.

Esboçando possibilidades e desafios pedagógicos do facebook

11 de fevereiro de 2013



Estou participando de um curso de formação de tutores pela Universidade Aberta do Brasil da Universidade de Brasília, como parte da seleção de tutores para atuação no Curso de Licenciatura em Pedagogia à distância. Nesse curso de formação em EAD para tutores, estamos estudando as  Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDIC) na Educação on-line e a atuação do tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Na semana passada, trabalhamos coletivamente na construção de um power point utilizando o Google Docs, a partir de um grupo de três pessoas (Cleverson Domingos, Fabrício Abreu e Henrique Neuto). Para construirmos essa atividade, utilizamos como ferramenta de comunicação e interação, além das mensagens via moodle, o bate-papo do facebook como forma de discutirmos em tempo real (ou síncrono) a atividade[1].

O facebook é uma rede virtual de relacionamentos, em que é possível, como diz o próprio site oficial, “se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida”. O facebook superou e, em alguns casos, substituiu o orkut - rede social criada pela Google. Ambas redes sociais foram criadas no ano de 2004. No Brasil, as redes sociais fazem muito sucesso e praticamente todas as pessoas que acessam a internet possuem um perfil nesses sites de relacionamento. Recentemente, durante a minhas atividades de tutoria no Curso de Atualização em Práticas Pedagógicas, ofertado pelo Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília, discutimos justamente a utilização das TDIC’s como instrumentos pedagógicos que podem auxiliar o processo de aprendizagem, interação e construção do conhecimento. Uma das postagens de uma professora da Bahia foi o texto 100 maneiras de usar o Facebook em sala de aula.

Esse texto apresenta diversas estratégias e possibilidades pedagógicas de utilização do facebook na área de educação, tanto presencial quanto a distância. Assim como toda atividade educativa, ao utilizar o facebook é importante definir os objetivos que se pretende atingir e, a partir disso, as formas/ferramentas que serão utilizadas para concretizá-los. Como o texto indica, podem ser desenvolvidas várias habilidades e competências com o uso do facebook e das suas ferramentas, como aquelas relacionadas a pesquisa, as relações interpessoais, a organização, ao trabalho, a comunicação, entre outras. A atividade a ser realizada, por sua vez, vai exigir a escolha de qual ferramenta da rede social utilizar. Poderão ser usados a depender da atividade o chat, os grupos[2], o feed de notícias, páginas, aplicativos, jogos, eventos, álbum de fotos e vídeos, entre outros.

No campo organizacional e educacional, o facebook tem sido utilizado por empresas e até por instituições de ensino como forma de estabelecer uma comunicação com o público de usuários interessados em acompanhar as notícias, atividades, conteúdos e serviços. Geralmente, criam-se páginas no facebook que podem ser “curtidas”. Assim, as informações postadas pelas páginas dessas instituições podem ser acompanhadas no próprio feed de notícias de cada usuário. Toda postagem ou atualização é vista em cadeia por todas aquelas pessoas que curtiram a página, sem necessitar fazer o acesso a página para acompanhar as informações (embora também exista a opção de configurar para que as informações não apareçam no feed de notícias, somente apenas quando for visitada a página).

Percebe-se que, fora esses casos em que são traçadas políticas de comunicação e marketing de empresas, marcas e instituições, o facebook ainda não é tão utilizado nos processos de ensino e aprendizagem, pensando na educação “formal” de um modo geral (seja presencial ou a distância). No entanto, como diz o texto 100 maneiras de usar o Facebook em sala de aula, “com o tempo, o Facebook tem aberto cada vez mais portas para que as escolas e professores possam usá-lo para melhorar a educação e, principalmente, a comunicação com seus alunos”. Como rede social, o facebook está presente na vida de muitas crianças e jovens, especialmente, aqueles que tem acesso as TIC’s e a internet. Trata-se de uma espaço de relacionamento e, portanto, onde acontecem processos educativos, visto que nele há pessoas que se interagem, compartilham informações e constróem conhecimentos.

Por outro lado, o facebook é também criticado, visto que muitos jovem passam muito tempo na rede social e na internet sem aproveitar as possibilidades educativas que elas lhe oferecem.  De fato, o facebook e a internet nem sempre precisam ser utilizados de forma pedagógica. O facebook, por exemplo, é utilizado mais como um espaço de entretenimento e agrupamento entre pessoas (amigos). Por outro lado, também vem sendo utilizado como uma forma de compartilhamento de informações (para além daquelas de cunho individual) e criação de grupos em torno de interesses em comum, casos em que se criam verdadeiras comunidades de aprendizagem. Não quero entrar no mérito dos “malefícios” do facebook para uma determinada geração ou do seu caráter efêmero. Do ponto de vista pedagógico, acredito que é importante saber manuseá-lo, filtrar as informações que nele circulam e desenvolver uma postura crítica perante o mesmo.

A reflexão sobre o facebook, sobre suas potencialidades e funções, pode ser uma das primeiras atividades quando pensar em utilizá-lo de forma pedagógica. Pensando na educação presencial, em primeiro lugar, percebo que o facebook se faz presente na vida de muitas crianças e adolescentes, seja em casa, nas lan houses ou na escola através dos seus telefones celulares. Às vezes, para muitas crianças e adolescentes, o facebook é mais interessante que as aulas. Assim, pensando em integrar esse público nas atividades e conteúdos escolares, o facebook poderia ser um meio de envolvê-los e de aumentar a motivação pelo estudo.  

Pensando no trabalho do tutor online, o facebook pode ser utilizado para várias atividades. Pode haver uma página no facebook da disciplina, em que o/a professor/a-tutor/a pode compartilhar informações com o seu grupo de cursistas. Além disso, pode ser criado um grupo para reunir os/as cursistas e integrá-los em uma atividade de produção coletiva que utilize o chat e o feed de notícias, por exemplo, favorecendo a interação e interatividade. Os cursistas poderão ser incentivados a criarem páginas sobre temas específicos e compartilhar conteúdos multimídias produzidos por eles próprios em suas atividades de pesquisa. Para favorecer a interação/interatividade, os cursistas poderão “curtir” as páginas criadas pelos colegas e fazer comentários e perguntas. Enfim, as possibilidades só aumentam com o desenvolvimento de novas ferramentas, aplicativos e jogos. Além disso, o facebook também pode estimular o planejamento e a realização de atividades interdisciplinares. Veja aqui uma matéria que fala do trabalho de um professor junto aos alunos utilizando o facebook

Em resumo, acredito que o facebook pode contribuir para o processo de aprendizagem construído dentro dos espaços virtuais à medida que amplia as interações para além do moodle, gerando outras formas de comunicação, construção e troca de conhecimentos. Inclusive, devido suas possibilidades pedagógicas, o próprio facebook lançou um guia que pretende auxiliar os/as professores/as do mundo a entender e aproveitar essa mídia social na sala de aula. Chamado Facebook para Educadores, o guia propõe e explica 7 maneiras com que educadores podem usar o Facebook, quais sejam: 1) ajudar a desenvolver e seguir a política da escola sobre o Facebook; 2) incentivar os alunos a seguir as diretrizes do Facebook. 3) permanecer atualizado sobre as configurações de segurança e privacidade no Facebook; 4) promover a boa cidadania no mundo digital; 5) usar as páginas e os recursos de grupos do Facebook para se comunicar com alunos e pais; 6) adotar os estilos de aprendizagem digital, social, móvel e “sempre ligado” dos alunos do século 21; e 7) usar o Facebook como recurso de desenvolvimento profissional.

Acessem o links e explorem essas potencialidades. Se quiserem me adicionem no "face": Cleverson Domingos  e lá podemos bater papo e interagir mais sobre essas possibilidades pedagógicas e os desafios a serem enfrentados com o seu uso educativo.


[1] O bate-papo do facebook permite realizar chats em grupo, bastando “adicionar amigos ao bate-papo ou a conversa”. A conferência em vídeo do facebook ainda é restrita a duas pessoas, diferente do hangout da Google que agora permite uma conferência com até nove pessoas.
[2] Os grupos podem ser de diversos tipos, isto é, grupos de amizade, de pesquisa, de interesse em torno de uma determinado assunto ou artista, entre outros. Podem ser secretos, fechados ou abertos, modificando a política de privacidade dos mesmos.

Confrontos e encontros no Bar Barulho

7 de janeiro de 2013


Nos últimos tempos, tenho lido muita coisa. Prefiro a leitura de artigos, livros, dissertações e teses no campo da pesquisa de gênero e sexualidade. Gosto dessa área, talvez por ser um campo "intolerável" para muita gente, como diz a historiadora e educadora Guacira Lopes Louro. Ontem, pesquisando na web sobre os conflitos que giram em torno do Bar Barulho, localizado no Parque da Cidade, pude encontrar o artigo de Marcelo Teixeira. O artigo chamado Configurações espaciaise formações identitárias: conflitos, resistências e revanchesem um bar gay popular, foi apresentado no III Seminário Internacional Urbicentros, no final de 2012, em Salvador-BA, e é fruto da pesquisa de mestrado que Marcelo desenvolve pela Universidade de Brasília.  

 

Neste artigo, Marcelo nos explica um pouco “o que está em jogo” nos constantes fechamentos do Bar Barulho, nesses últimos anos. Afinal, só pela minha lembrança, o Barulho foi fechado duas vezes: uma em 2007 e outra em 2012. Marcelo fala especialmente do último fechamento do Bar e aponta pontos fundamentais para entendermos esse “contexto”, mas principalmente reafirma a importância do Bar Barulho nas práticas culturais e de formação identitária da comunidade LGBT “menos abastada” do Distrito Federal e entorno. Sem dúvidas, o Bar Barulho representa mais que só um espaço de paquera ou um ponto de encontro das juventudes brasilienses LGBT. Trata-se de um lócus de (re)criação da cultura, de formas de expressão, de corporalidades, isto é, um importante espaço de formação identitária individual e coletiva, como o próprio Marcelo afirma.

 

Além do artigo, recomendo também o vídeo “Braqueza, ordem e concreto” que retrata a “Operação Moralização das Áreas Públicas” do Distrito Federal, que além do Bar Barulho, teve também como alvo principal o Setor Comercial Sul, área hoteleira e comercial de Brasília, frequentada na noite pelas travestis e garotas de programa. Nesse vídeo, percebemos o fenômeno da higienização do espaço público, com o objetivo de restaurar o que chamam de “moral e bons costumes”, retirando dali o “outro indesejável”, ou como diz o policial, aquela gente que não está de acordo com a sociedade”, no caso, as travestis e trans que se prostituem. Nesse vídeo, uma das travestis dá uma lição de “direito” para os “operadores e aplicadores da lei”: “...se você tem documento, você tá legalizada, não é verdade isso gente? Agora se você tá aqui com direito, é maior de idade, você tá aqui porque você quer. Você concorda comigo?."

 





Para saber mais sobre as peculiaridades do Barulho em relação a outros espaços de socialibilidade homoerótica do Distrito Federal e um possível processo de “gentrificação” ou revitalização do lugar, ver também QUEIROZ, Cristina Monteiro de. Estigmas, guetos egentrificação: a segregação homossexual em Brasília. 119 f. 2008. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2008; Para saber mais a respeito da "Operação Moralização de Áreas Públicas" ver MACDOWELL, Pedro de Lemos. O espaçodegenerado: ensaio sobre o lugar travesti na cidade modernista. 2011. 99 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia)-Universidade de Brasília, Brasília, 2011. Para saber mais sobre como os coletivos LGBT se organizam no Distrito Federal, ver também MATOS, Karla Joyce de Freitas. Rede “Arco-Íris”: Um estudo sobre a articulação política do movimento LGBT do Distrito Federal. 2010. 120 f. Monografia (Ciências Políticas) - Universidade de Brasília, Brasília, 2010.